E ali estava eu passando por cima de princípios e propósitos, e ali estava você protegido pela decisão de não passar daquilo. E por trás da minha falsa leveza estava todo o peso do meu ser abrindo as portas pra você. Você entrando por todos os buracos do meu corpo, por todas as frestas da minha alma; eu estava inteira ali. As duas realidades internas se estranhando naquele quarto super luxo de motel, tão diversas, tão discordantes. E nem toca você o rebuliço aqui dentro do peito, muito menos essa insônia reencontrando a solidão e constatando o óbvio afastamento depois de satisfeita a curiosidade.
Eu sabia que o terreno era minado e mesmo assim escolhi pisar. Como aquele rouxinol de “Pássaros Feridos”, que com um espinho cravado no peito canta ininterruptamente, mesmo sabendo que o canto acelera a morte. Assim fiz. Confiei meu coração à sua guarda durante aquelas horas. Talvez ainda o faça por sabe-se lá quantas vezes.
Todo o Sentimento
(Chico Buarque e Cristovão Bastos)
Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Até se consumar
O tempo da gente.
Preciso conduzir
Um tempo de te amar,
Te amando devagar e urgentemente.
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez,
Que recolhe todo sentimento
E bota no corpo uma outra vez.
Prometo te querer
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Até o amor cair
Doente, doente...
Prefiro, então, partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente.
Depois de te perder,
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Te encontro, com certeza,
Talvez num tempo da delicadeza,
Onde não diremos nada;
Nada aconteceu.
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu..

Nenhum comentário:
Postar um comentário