O domingo começou assim, um despertar sonado tateando o tênis no armário, com os olhos apertados diante dos raios de sol entrando pelas frestas da janela. A escolha sonâmbula da roupa e a saída pelas ruas quietas do bairro, cumprindo a caminhada diária. Continuou pela ida à padaria, os pães fresquinhos e a fila no caixa bem calma, com as pessoas desaceleradas pela folga. Como qualquer outro dia, trouxe a leitura de um trecho aleatório da bíblia – caiu em Corintios – com o café suave e fumacento embaçando os óculos. Como qualquer domingo, trouxe o despertar vagaroso da casa, com os sons das portas dos quartos, abrindo-se uma a uma. As plantinhas ganharam sua chuva básica – eu sempre tento fingir que é chuva mesmo, pra ver se as engano e elas ficam mais felizes e floridas. A cozinha começou sua tarefa do almoço em família com as águas ferventes, os toques de umas louças em outras, a tijela de salsinha picada ao lado do alho descascado. A mesa da varanda colocou-se a postos com belisquetes, palitos, taças e cinzeiros e as pessoas foram se colocando à sua volta. Como em qualquer domingo. Mas quando a tarde caiu arroxeada e a preguiça se espalhou na frente de um filme na TV, um e outro foi se inquietando e saindo, todos buscando um último acontecimento para o seu final de semana. Aí aconteceu. O anoitecer fez-se dia, agitou cada folhinha da velha paineira em frente e espalhou um pólen diferente, mexendo com a minha alma. Recebi, consciente, a novidade. E respondi naturalmente pelo Facebook: “olá! estou bem, e vc? sim, também estou sozinha, claro que podemos nos conhecer melhor!”
Ribeirão Preto, 23 de maio de 2011

Nenhum comentário:
Postar um comentário