Descubro

     Descubro que os dias podem ser preenchidos por conversas gostosas da família em volta da mesa, música entre amigos, gentilezas gratuitas generosamente ofertadas por próximos ou desconhecidos, bons filmes assistidos em casa, videos encantadores que encontro no YouTube, novas flores que se abrem em resposta aos cuidados com as minhas plantas, enfim, riquezas do cotidiano que passaram tantas vezes desapercebidas. Descubro que meu buraco interno não era tão irreversivelmente infinito e que eu não preciso me lançar em relacionamentos inviáveis apenas para não estar só. Que uma xícara de chá quente brindando a paz de espírito e um bichinho de estimação enroscado em minhas pernas podem ser melhores do que passar por cima de mim para manter uma pessoa ao meu lado. Que embora doa abrir mão de alguns sonhos, é preciso perceber a hora de parar de nadar contra a corrente e de me dispor a reconfigurá-los. Perceber que, na ânsia de ser feliz, a gente acaba tomando justamente o caminho contrário. 

     Descubro tudo isso e me redescubro. Em tempo.

Casa No Campo

(Zé Rodrix e Tavito)

Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
Meu filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais