sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Suspensão


Hoje o sono vai demorar pra chegar. Porque hoje a minha vida inteira está tentando caber em cada música, em cada poema, em cada imagem que eu acesso. Em uma noite. Hoje as guardas estão baixas e o tato lê espinho. Hoje os olhos estão secos, mas a alma está marejando e qualquer esforço parece inútil e qualquer meta parece inatingível. O peso das perdas, das frustrações, da desesperança, cai sobre os ombros desprotegidos e faz deitar o corpo em um canto qualquer da casa. O cansaço recusa estratégias e investimentos emocionais, exacerbado pelas decepções. Faltam atitudes, grandes, pequenas, todas. Faltam palavras, pactos, carícias, falta proporcionalidade. E eu vou me entremeando nas brechas que me são disponibilizadas, sem norte, enquanto os dias vão se oferecendo ora iguais, ora piores. Não há progresso nisto, não há saída, e tudo fica em suspensão, como em uma área de monotonia da natureza, onde nada acontece, nenhum som se precipita, nenhuma folhinha mexe, não há vento. O passado e seus inspetores tomam vulto, enchem-se de força e autoridade, e o presente vai minguando debilitado.