Desde que nasci, vivi no meio dos esmaltes, secadores, e das mulheres que trabalhavam no salão de beleza da minha mãe. O passatempo delas parecia mesmo ser zombar de mim, uma criança tímida e desajeitada, e aquilo me torturava imensamente. Mas um dia, em vez de me provocarem, elas me pegaram, esticaram meus cachinhos ruivos com gel e pregaram um rabo de cavalo liso no alto da minha cabeça. Olhei-me no espelho e vi, felicíssima, uma verdadeira princesa. Saí, triunfante, e fui pegar meu kart azul de ferro, acho que o brinquedo mais pesado que já existiu, pois mesmo na descida, a força necessária para mover os pedais era enorme. De kart, desci pela calçada até a esquina para mostrar pro Luis. Encontrei-o sentado no primeiro degrau da escada que dava acesso à sua casa, bem em cima do atelier de costura de sua mãe. Ele me olhou assustado, fez um ar de encantamento e me disse:
- Nossa, você tá parecendo a Wanderleia!
Ah, o coração descompassou e eu nem me importei por ter que empurrar o kart de volta na subida.
Foi o primeiro elogio sincero que recebi de um homem. Nunca me esqueci.
*Neste momento, o corpo do Luis está sendo velado. Não vou. Não quero ver.